Depoimento de uma Mãe | Inclusão?

julho 02, 2009

"Bom dia a todos

Moro em Montreal, no Canadá, e por aqui a situação não é muito diferente.
Desculpe se falo algo que desagrada, mas Inclusão é o tipo da coisa para ser tratada como (longo) processo, invariavelmente doloroso, em maior ou menor escala.
Achar que a escola, a sociedade passam a adotar a Inclusão simplesmente porque um Decreto ou Lei foi assinado é não querer ver a realidade. Incluir crianças autistas no Maternal é "mole". Meu filho passou por isso e foi uma experiência muito muito boa (era meio período na escola especial e meio na regular, com intensa troca de informações entre elas e muita vontade de aprender, de ambas as partes).
Mas temos que admitir que nós mesmos, pais, algumas vezes não entendemos direito nossos filhos e temos até problemas em resolver problemas de relacionamento entre os irmãos. Imagine as professoras! Muitas só ouviram falar em Autismo nos filmes; a formação acadêmica que as habilita ao magistério é fraquíssima no assunto. E eles demandam mais atenção, muitas vezes, do que todo o resto da classe junto.
Então, não se iludam: pode-se até achar uma escola ou professora preciosos nesta área, mas a regra geral é que:
  • 1o - as escolas e professores ainda estão muito longe de estarem preparados para a Inclusão, entendendo-se isso como algo que será deveras construtivo para o desenvolvimento da criança, sem deixar traumas;
  • 2o - pais que acham que a escola deve fazer isso ou aquilo porque existe um decreto em vigor e eles que se virem p/ cumprir o decreto, é comparável àqueles "bichinhos" australianos que enfiam a cabeça no buraco p/ "se livrar" do problema. Esquecem que se pode até interditar uma instituição ou se punir pessoas por não cumprir a lei, mas deixar crianças na porta da escola pela manhã e ir buscá-las à tarde, confiando no "poder da Lei" somente, pode ser muito prejudicial à criança. E, como diz meu filho, "aí já era!". Vcs vão arriscar?
Por aqui o modelo é diferente, depois que várias tentativas de "Inclusão clássica" troxeram mais prejuizos que benefícios (nas palavras do primeiro professor do meu filho, na escola elementar ainda, que era Mestre em Ed. Especial): a escola pública que frequentávamos tem turno único (8 às 3) e tinha duas salas especiais para autistas: uma turma de 6 a 9 anos e outra de 10 a 12, com dois profissionais "a bordo" e no máximo 6 crianças em cada uma. Eles tinham toda a "parte acadêmica" nestas salas e se benefeciavam da inclusão social no ônibus da escola, na ed física no ginásio, nos passeios, nos intervalos no pátio, nas frequentes gincanas entre as turmas, onde eles eram distribuídos pelas turmas "normais", enfim, tinham muitos colegas, eram conhecidos, amados e ajudados por todos nestas frequentes atividades extra classe, pois o sistema os protege das naturais chacotas que vêm dentro da aula de ciências ou matemática, por exemplo. E olha que o currículo por aqui é muito mais fraco que no Brasil.

Após passar mais de 4 anos neste esquema, meu filho terminou o ensino elementar com um nível de desenvolvimento social e de comunicação fantástico. Por conta disso, resolvemos colocá-lo numa escola secundária "semi-especial", isto é, uma escola que tem poucos alunos por sala (máximo 12) destinada a alunos com problemas de aprendizagem, não necessariamente autistas. Ele e outro colega (também autista) passaram este 1o ano com uma auxiliar em classe, mas o esquema era o de uma sala regular, com currículo acadêmico regular diferenciado (um pouco mais fraco - tem isso por aqui), mas com nada do que conheço destinado especificamente a pessoas como os nossos filhos.
Resultado: Daniel até ficou mais "experto" e independente, mas ficou muito mais autista (estereotipias, ecolalias, resistente a mudanças, diminuiu a interação comunicativa, ficou mais nervoso em casa e em lugares públicos, etc). Estamos transferindo ele para a escola especial, que tem o mesmo conteudo acadêmico e até formação profissional, mas principalmente tem programa escolar desenvolvido para autistas, com toda a sorte de estimulação que faz com que eles se desenvolvam mais. Outro aspecto é que tiramos ele da pressão diária que sofria dos colegas "normais", adolescentes como ele. É da idade e acontece mesmo que um exército de professores e monitores estejam vigiando todo o tempo.

Portanto, pelas estórias que ouvi e por experiência própria, eu, que era adepto fervoroso da Inclusão nos moldes do que se fala aqui (aquela do decreto), mudei de opinião. Defendo a Inclusão total no Maternal e, à medida que vão crescendo, vamos dosando esta Inclusão, para que tenham o máximo ganho da socializaçào (convívio e participação com todos) e do desenvolvimento em outros aspectos que só programas customizados às suas necessidades, em ambientes protegidos, oferecem uma relação custo X benefício (psicológico) amplamente favorável.

E ainda um último detalhe: manter um ajudante em sala de aula p/ nossos filhos custa dinheiro. Será que os outros pais estão dispostos a "rachar" esta conta numa boa ou isso, por si, já não seria motivo de rejeição aos nossos meninos?

Como falei no início, esta é somente minha opinião, baseada na minha experiência. Ninguém é obrigado a concordar com ela. Mas tenho a impressão que partir para o confronto, partir para a Justiça e/ou Polícia contra a escola, é esforçar-se para conseguir inimigos e desconstruir a Inclusão. Pensem que, do outro lado, existem outros fatores que, muitas vezes, nossos ideais não conseguem vizualizar. Cuidar de 20, 25 crianças na sala não é p/ qquer um. Imaginem colocar um dos nossos junto? Duvido que a professora consiga fazer por ele o que uma turminha de 6, com auxiliar, é capaz de fazer." (Depoimento de uma mãe em http://br.groups.yahoo.com/group/tidmania/)

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